O morro cinza do menino danado
Um menino pulou no rio e
saiu voando, voava aquele menino e
era domingo e domingo muito quente
verão muito quente, quente.
O menino pousou no morro, correu,
correu como sempre
correu e gritava e girava e sorria
brincava de pegar o pão e o leite
pra matar sua fome de menino danado.
O morro cantava o samba e o samba
falava de amor e de dor e depois de amor.
Camisa de brim, calças de brim, lenço de seda
o menino agora fazia samba e animava a sua vida
e sua vida era a mulata forte e trabalhadora
que roubou seu coração de homem danado.
A fome calava a voz árdua do seu povo, sua família,
o horizonte era cinza e arteiro feito o menino
que vendia geladinho na praia e na mansidão
mergulhava num outro mundo de ouro.
Estudava e trabalhava, fazia seu pé de meia
o menino danado virou um homem danado
guerreiro da liberdade e da luta de sempre.