UM ATO DE HEROÍSMO


Noite chuvosa no orfanato,
Apenas oito anos – anonimato,
Tremor no corpo inteiro,
Vontade danada de ir ao banheiro,
Mas, de que jeito?
Está preso ao leito;
Não tem esse direito,
A paralisia não deixa,
Por outro lado – coitado!
Se molhar o colchão,
Pela manhã, descem-lhe a mão,
Xingam-lhe de desgraçado.
Num ato impreciso,
De verdadeiro heroísmo,
Atira-se da cama,
Rasteja até o sanitário,
Apesar do sacrifício, não reclama,
Pelo contrario;
Pra alegrar o coração,
Ainda assovia uma canção,
Num esforço sobrenatural,
Atinge o seu ideal,
Alívio total;
O retorno é mais lento.
Corpo nuito cansado,
A alma sente um gosto de vitória,
Mas, uma coisa é certa,
A cama é alta; não consegue subir,
Então puxa a coberta,
E no frio do chão, tenta dormir,
Quem sabe não sonhe com dias de glória?