ACORDA

A corda que puxa a água do poço partiu, sem data pra voltar.

Desde a primeira morte não morrida, as placas não erguidas se oxidaram.

E as primeiras manhãs sem vida nasceram e as trombetas não soaram,

os sinos não bateram, os alardes silenciaram e sob o clarão da luz a

vida se escondeu nas arestas de sua sombra e dentro de suas dobras

guardou o que se calou.

E nas vielas escuras ergueu-se o muro das lamentações e fez-se nas

dobras ocultas sob o blusão escuro que eles usam.

Eles que caminham com suas vestes de ouro e corações de plástico.

E desde aquela primeira morte não morrida a vida enterrou a vida.

E as bandeiras separaram, os tremores vieram, as palavras feitas de giz se

apagaram.

E entre a minha tez e a tua tez, a linha delicada da construção não se fez.

Sob as dobras de suas manobras, sob as sobras de suas ganâncias,

onde o risco da justiça não alcança, ainda assim, dança, em meio a escárnios,

sob as luzes apagadas, teimosa e reinventada, a esperança.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 22/07/2022
Reeditado em 23/07/2022
Código do texto: T7565749
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.