MEDUSA
Meu grito preso na garganta,
Me vem a vontade de chorar,
Não posso mais suportar
Ver outra de nós sangrar,
Por outro "deus de bem" violada,
Sem poder reagir e lutar.
Tatuaram "puta" em nossa testa,
Devemos viver a margens dos desejos alheios,
Sem contestar.
Nem pense em gritar
E exigir respeito e paz
Dentro do caos que é esse mundo,
A ordem é acatar a autoridade,
Mesmo que isso lhe faça perecer.
Não se pode ser o que quiser ser.
Usada, jogada,
Humilhada, rotulada,
Maltratada, condenada,
Abusada, exposta, monstruosa,
Mulher....
Não importa o que acontecer,
Sua obrigação é ceder,
Engula sua dor,
Levante-se e obedeça ao seu senhor,
Aguente tudo o que vier,
"Guerreira"....
Nossos corpos são dos outros,
Nossas mentes pedras devem ser,
Submissão é a penalidade imposta por quem está no poder.
Assisto a nossa força morrer
A cada dia que se passa,
Sinceramente estou cansada
De estarmos fadadas a destruição,
Sem misericórdia e compaixão.
Será que ainda seremos verdadeiramente amadas?
Somos deusas objetificadas,
Filhas de Medusa amaldiçoadas
Na sociedade controlada
Por herdeiros de Perseu e Poseidon,
Com suas dignidades decapitadas,
Vítimas que definham como culpadas.