MEDUSA

Meu grito preso na garganta,

Me vem a vontade de chorar,

Não posso mais suportar

Ver outra de nós sangrar,

Por outro "deus de bem" violada,

Sem poder reagir e lutar.

Tatuaram "puta" em nossa testa,

Devemos viver a margens dos desejos alheios,

Sem contestar.

Nem pense em gritar

E exigir respeito e paz

Dentro do caos que é esse mundo,

A ordem é acatar a autoridade,

Mesmo que isso lhe faça perecer.

Não se pode ser o que quiser ser.

Usada, jogada,

Humilhada, rotulada,

Maltratada, condenada,

Abusada, exposta, monstruosa,

Mulher....

Não importa o que acontecer,

Sua obrigação é ceder,

Engula sua dor,

Levante-se e obedeça ao seu senhor,

Aguente tudo o que vier,

"Guerreira"....

Nossos corpos são dos outros,

Nossas mentes pedras devem ser,

Submissão é a penalidade imposta por quem está no poder.

Assisto a nossa força morrer

A cada dia que se passa,

Sinceramente estou cansada

De estarmos fadadas a destruição,

Sem misericórdia e compaixão.

Será que ainda seremos verdadeiramente amadas?

Somos deusas objetificadas,

Filhas de Medusa amaldiçoadas

Na sociedade controlada

Por herdeiros de Perseu e Poseidon,

Com suas dignidades decapitadas,

Vítimas que definham como culpadas.

Srta Cabernet
Enviado por Srta Cabernet em 13/07/2022
Código do texto: T7558974
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