Lamento
Sangue que rola na fossa da vila aos gritos
Bala perdida achada no corpo que morre
Mãe sem consolo segura a camisa manchada
Arma sem dono prossegue seu curso ceifando.
Pátria querida que mata seus filhos aos montes.
Mancha lavada com tinta que acusa de tudo...
Carlos, Moisés, Severino, Matias, Henrique, Tadeu!
Nesse processo de vida e de morte parece que um alvo
jaz desenhado em cada cabeça retinta que espera somente
que lhe permitam ser gente, não bicho matável na vala comum.
Cores diversas da nossa bandeira, mas sempre o preto
é o que pinta o luto. Vermelho escorre manchando a escada
Áurea é cor que promove isso tudo, ainda que a lágrima
seja pra sempre incolor, humana e mulher...
Obs:
Nesse poema tentei usar o hexâmetro dátilo. (-vv/-vv/-vv/-vv/-vv/-v). A dificuldade consiste em já começar os versos com uma sílaba forte. Mas admito que essa sonoridade agressiva combina muito com o RAP brasileiro.