MENINOS SEM HINOS
Sob os sinais eles estão.
Devorados pelas mãos invisíveis do poder, eles não sabem o que fazer.
São fustigados pelas guerras sem nomes, sem razão.
São eles que passam fome em frente aos jardins floridos da mansão
que esconde em seu porão o tesouro brilhante no colar de pérola que ela usa.
São eles, sem lar que estendem as mãos em frente ao altar que tem olhos mas
não enxerga, enquanto sua prole navega no navio sobre as águas do descaso.
São eles que cintilam um brilho diferente, embotado na semente de outro
jardim, precarizados pela falta de luz, água e gesto.
Eles nos pedem proteção, alhures os outros da mansão os hostilizam,
e deslizam sobre as avenidas, sobem os viadutos em que eles moram,
com os carros comprados com o dinheiro que os explora.
Sim, são eles de tão jovens ainda não entendem o real significado da vida e
já expostos a tamanha ferida.
Eles também estão no poço escuro da solidão vendendo balas e chocolates,
longe da educação que em seus pequenos corpos suados não habita.
Eles que pedem tão pouco e não têm nada, nem o troco, só a estrada quente
por onde seus pés clementes ardem.
Eles estão aí, esperando que nos corações insensíveis possam surgir alguma
grandeza, mesmo sutil, para que os meninos sem hinos possam usufruir.
Geração sem pedigree, invadida e banida do mínimo que seu amor de menino
exorta, centro da resposta por trás da dívida de um país, que fabrica fel e diz
que é feliz.