Ao Alvo que Atira Para Não Ser Atingido
Assim se caminha ao encontro
De tudo o que já não faz pensar
Pelo conforto caminhamos contra o vento
Contra o povo e nosso entendimento
Artimanhas tão inconsequentes
Aquecem nossos peitos gelados
Não em sentimentos ou esperanças
Mas pela adrenalina na cega vingança
Sem lenço nem documento seguimos
Jogamo-los fora e nos esquecemos
Que olhares famintos não mais nos comovem
A dor dos feridos já não nos envolve
Mas sim a graça da discórdia
Mas sim a revolta pela revolta
A esquecer que também somos culpados
Achamos o bode espiatório perfeito
Aquele a quem nós mesmos pertencemos
Aquele que por trás nos escondemos
Brandindo verdades tão massacrantes
Fingimos que a nós ela não cabe
Apontamos o culpado pela dor da nossa gente
Mas não assumimos que pouco ela nos vale
Cantamos o sacrifício dos que nos governam
Mas não abrimos mão do que nos agrada
Os alvos que atiram a si mesmos preservam
É fácil culpar quem representa a desgraça
No fundo escondemo-nos de nós
No fundo percebemos nossa demagogia
Pois abrimos a boca e tapamos os olhos
Tentandos maquilar a nossa covardia