PRECISO
O voto é a fé que liberta a mão cansada e os joelhos doídos das promessas
dos desvalidos.
É a aceitação do que somos enquanto nos representamos nos palanques que
é nosso por direito.
Pelos olhos do voto nos vemos na mesma linha horizontal que faz a farinha e o
mingau.
Através dele conquistamos o que nos torna tão iguais nas paredes universais
do poder.
É nosso guia e nos põe vigia pelas salas que testemunham as reuniões
ocultas nos bastidores que escondem as culpas.
O voto é parceiro e coletivo em sua inclusão, a gênese do individualismo está
na ação que o faz secar na fome pela mão voraz do homem.
É a porta de saída, no momento em que a vida escoa pelo ralo a riqueza do
operário e vai desaguar do outro lado a encher o bolso dissimulado.
O homem divaga e não sabe que o voto é gesto que abre a janela mais
próxima de toda beleza que nele mora.
O voto humanitário bem guardado deita lado a lado em sua rede de proteção
o peão e o patrão, embalados pela paz que jazz na mesma direção.
O voto sangra e desliza sobre nossa dor imprecisa,
estanca e espera aflorar noutra era e nessa onda contínua que oscila nossa
decisão o voto anseia coragem pra vicejar nossa evolução.
Caminha léguas a pé, navega pelas embarcações nas profundas águas da
determinação, mas não perde a fé em seu coração.
Jorre esse voto da consciência pela garganta a fora, nos hospitais,
emergências, favelas e nos funerais dos quilombolas.