in sonhos
me reconheço nas pessoas que mendigam pela rua, pedindo comida, bebida, afeto, calor,
tenho morrido todos os dias dentro de casa, contando os minutos pro sol atravessar as árvores e me aquecer debaixo da coberta, e num outro piscar de olhos dançar um degradê no fim da tarde, então
amanhece, o sol desperta a felina que me levanta, eu volto a dormir, acordo com o cheiro de café, abro as janelas, abro a garganta e procuro uma música, canto arranhando uma triste melodia, danço os pés, ando, ando, e ando em círculos, deixo o corpo pesar, corro. não consigo pensar em muita coisa quando em cada esquina que olho só vejo morte. minha sã ignorância só vê vazio. no almoço frito cigarros, fervo café, e rio fingindo entender da política brasileira. não é preciso entender, eu sinto tudo na pele. minha sanidade é doentia, não me deixa só, caminha ao redor de minhas amizades.
existe um esforço gigantesco em se querer viver. não sei escrever sem cair em lágrimas, e cada gota que sai tem a força de uma oração. inundo o quarto e fecho os olhos, tem dias que não dá para dormir.