E o Povo Explorado Aprendeu o seu Ofício

O ditador de quase todos detém poder demais;

Possui opositores acovardados, togados acanalhados,

Riquezas surrupiadas, direitos dos desdentados achincalhados,

Domina gados humanos, meros defecadores que aplaudem,

Mas o desgraçado não está satisfeito, deseja muito mais.

Na alta noite da dor, na descoesão social, entretanto,

Os invisíveis nos noticiários, o povo, tratado como polvo,

Em seus pedaços de vidas roídas, malsucedidas, tomaram consciência

Da crise, do bagaço moído feito cana estragada que vivem...

E invadiram o palácio – fizeram voar pela janela os serviçais,

Tacaram fogo nas ruas, pintaram de greve as horas seguintes,

Perante a Lei e os bons costumes juraram a redenção da classe trabalhadora:

De pé as vítimas da fome, todas as bocas regurgitando os seus grilhões.

Depois de sonolentos anos, de cegueira política, eles renegaram altares,

Cuspiram no moralismo de fachada e capturaram o ditador:

Abriram seu estômago em praça pública, seu pútrido sangue escorreu ao redor,

O ressabiado conformismo se transformou em eloquente revolta.

E o povo explorado aprendeu o seu ofício:

Por entre as trevas tomadas no poder insistir em tomar as rédeas.

Ter a certeza que mesmo quase eterno todo déspota causará

Tanta podridão às cabeças dos humildes, que, uma hora,

Quando menos se espera, os humilhados reduzem tal verme

A um amontoado de ossaturas e um punhado de sangue seco.

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 15/06/2022
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