Bicho1
Em busca de sentido
Caminho sem rumo
Pelo morro
Atrás do fumo
Ou de socorro
Ou do próprio capeta
Nesse ínterim,
Acerca-se de mim,
Alguém que, talvez um dia, já foi feliz
Outro também aparece, por entre as vielas e becos,
Tão raquítico quanto o primeiro.
Ambos têm o mesmo olhar de desespero
E esperam de mim um cigarro, algum dinheiro, ou só um trago
Carregam consigo dentes podres e uma desesperança abismal nos olhos fundos de olheira
Penso comigo
Nenhum ali leu Camus
Mas todos querem dar um tiro
Na própria cabeça
Talvez por falta de incentivo
Quiçá de emprego
Não me refiro à pedra de Carlos
Nem ao Bicho de Bandeira
Tampouco à hora da estrela
Mas...
Queria não falar sobre isso
Mas, quando subo a ladeira,
Vejo tamanha tristeza,
Que minha solidão,
Tão egoísta,
Parece brincadeira...
Uma senhora, que bem poderia ser minha avó, me aborda, de súbito, da seguinte maneira:
"Ei, boizinho, é o crack, é? Eu sei onde é que tem."
E puxa meu braço...
Penso no monstro Kraken, me assusto, porque ela esbugalha os olhos, seus tentáculos me envolvendo... Descalça, fedendo, provavelmente não almoçou, o sol de rachar os pés.
Me esquivo dizendo que não sei o que procuro; queria mesmo uma cura para essa extrema tristeza, ou apenas uma cerveja estupidamente gelada.
"Quero dar um tiro", ela sussurra no meu ouvido como um lamento de animal ferido.
Será que ela lembra quando foi que deu o último sorriso?!
Será que aquele mendigo, digo, aquele menino em situação de rua, sabe o que é um sorriso?
Quanto mais penso na humanidade, mais me deprimo...
E eu sigo, não sei pra onde
Cego
Sem sentido...
Sentindo muito...
Sentei numa calçada qualquer
Café sem açúcar
Cigarro
Doors no ouvido
E Kafka na palma da mão