Para: axioma!

Naquelas horas flácidas,

lânguidas da manhã outonal de abril chuvoso

sob os átomos convalescendo

abri as janelas com um sopro de ânimo

renovando minhas pétalas

Observei as árvores e os pássaros cantando

em altíssono por seus bicos

tão míopes das barbáries

naquele sátiro, sádico, ilógico

solo despótico

O cálice estava sobre a mesa vazia de comida

tirando as minhas sílabas, meus verbos,

colocando-me censuras, silêncios, parênteses,

tapando a boca na catástrofe orquestrada

pelo espetáculo do chefe de Estado

Entre as dívidas e as cóleras

que tocam a úlcera do estômago

sem um grão íntegro para comer

o povo tornou-se vítima do próprio voto

Nesse ínterim, sou poetisa, versejo o mundo sob as minhas ópticas lúdicas

abocanho arquétipos, arquipélagos, ângulos

hipóteses, hipérboles e

todos os incômodos sociais que vicejo

guardo nas páginas dos meus cadernos

Meu vetor artístico se derrama

na realidade esdrúxula,

sob os mandos do governo tirânico

que à minha alma poética não cabe

nem uma dúzia

nos meu cálculos,

entre o máximo e o mínimo,

eu sou música

Contra os domínios,

sou o contrário

pois entre o político e o poético

eu prefiro misturar.