TÓXICO

Ele zomba, ri, humilha, dança em cima do túmulo; ele quer se dar bem,

não importa como, nem sobre quem.

Ele pensa que o mundo é um teatro e sua vida única peça em cartaz.

Seu gesto vara o dia, noite, praças, mercados, praia, se espraia na orla,

adentra os mares, contamina os peixes, deflora a fauna.

Seus atos poluem o ar que atravessam, desertificam o terreno arado de

poesia, desintegram o organismo bem elaborado das coisas, pulverizam a raiz

molhada de vida e desembocam sempre no seu corpo, sem sangue, sem veia,

sem pulso, mero arcabouço.

Suas mãos tocam seus músculos - sua glória, onde começa e termina sua

história, seu ponto de partida e chegada ao vácuo.

Sente-se dono da verdade na bolha em que só cabe ele e seu umbigo,

infringe aceitação, adequa os movimentos em sua direção,

desloca a aura solidária.

Ele é soberbo, embebido na essência única e palatável de seu embuste que

carrega na mala de intenções.

Fabrica rótulos para ser incluído na roda dos iguais, que gira em torno

do seu eixo e dissemina sementes ungidas de toxinas, corroídas nas

entranhas.

Ele é os olhos da humanidade cravados em si, em sua pele, cabelo, boca,

olhos, nariz... é sua natureza inflada de ego, destituída do mundo, descolada

do fluxo, intoxicada de permanência.

Ele não sonha, tem pesadelo; o sonho é amigo dos loucos, do amor,

da alegria, da harmonia, do coletivo; antítese do desprezo que seu

arquétipo leva nas rédeas do individualismo.

Sua forma é sintética - não couro legítimo, mas ele a faz parecer de touro

quando monta e vê a arena com seu olhar oblíquo.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 28/05/2022
Código do texto: T7526007
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