O fim desta época

Os pedintes desta cidade têm sido mais insistentes

Porque mais insistente tem sido a fome

O semblante médio tem sido de tensão

Porque nos tensiona cada vez mais a miséria

O sol torra o asfalto, o asfalto tosta os miseráveis

Multidões pardas caminham brutalizadas

Em arruinada paisagem semi-urbana

Gerando esta regular sensação de caos

A realidade pesa tanto que alucina

E se decompõe na mesma medida

Maior a dor, menor o número

Dos que conseguem manter-se sóbrios

E sorte daqueles que, por ora, ainda podem

Vender sua força de trabalho à exaustão

Pois perecem os inválidos e viciados

E perecem os que precisam vender seus corpos

Toda forma social, antes de desaparecer

Primeiro enlouquece

Aguça tudo que há de vil

Mas também tudo que há de mais nobre

Em cada parte se acumula material inflamável

Que exige doses cavalares de anestesia social

Para evitar explosões generalizadas

Mas sem dúvidas há já cheiro de fumaça no ar

Há nos lugares um clima de ansiedade geral

Em que toda a gente aguarda algum grande fato

Que desafie a vida como está posta

Enquanto mobilizam os nervos e músculos

Para garantir a sobrevivência diária

Mas as conversas de pé de ouvido

Os olhares que se cruzam

E os bilhetes deixados nas esquinas e subterrâneos...

Tudo revela

Que os de baixo não podem seguir vivendo como antes.

Maxuel Chaves
Enviado por Maxuel Chaves em 06/05/2022
Reeditado em 09/09/2022
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