Castro Alves - Poeta dos Escravos, desencarnou em Salvador, no dia 6 de Julho de 1871,
vitimado pela tuberculose, com apenas 24 anos de idade.
PRETO VELHO
Entardecer
o sol deita na serra
cheiro de terra
quente roçado
caminha o velho João
lentamente
arcado pelo trabalho forçado
pelo peso da dor de sua gente
Nem sente os anos passando
nem sente a vida lhe escapando
seu olhar pousa num ponto do céu
O velho João ousa sonhar
“- Sonha João com o fim da maldade
Sonha João com dias de liberdade”
Solidão
a noite chega na mata
triste senzala
corpos exaustos e entregues ao chão
caminha o velho João, docemente
tocando seu povo com mãos de cura
sementes de amor e bravura
Nem sente o sono desfeito e perdido
Nem sente o choro em seu peito contido
Sua voz se ergue para o outro lado da vida
O velho João se põe a chorar
“- Receba João a benção da Mãe Querida
Receba João a luz da Estrela Guia”
Amanhece
o canto terreiro o renova
guerreiro sabe que tem missão e prova
dura servidão
caminha o velho João
corajosamente
Já não tem passado
só olha pra frente
Nem sente a hora chegando
Nem sente o céu lhe chamando
O velho João se põe a dormir, dormir...
“ - Acorda João, deixas-te a terra!
Acorda João, nova vida te espera!”
João caminha, humilde e feliz
coração de menino
alma aprendiz
Seus olhos enxergam maravilhosa Luz
De braços abertos seu Amigo Jesus
João é emoção e alegria
mas não se esquece
daqueles com quem viveu um dia
a dura agonia...
" - Derrama João
sobre a senzala desse mundo
sua luz feito poesia
e pelos anos afora
a cada dia, a cada aurora
ajuda
a livrar da escravidão
do erro e da arrogância
a livrar da escuridão
do medo e da ignorância
ajuda
a libertar para a vida
essa humanidade sofrida
Que assim seja!"
Claudio de Lima
Nota 1: Poema composto por inspiração mediúnica em novembro/2008
Nota 2: Ao longo de 300 anos de existência do tráfico negreiro, cerca de
4,8 milhões de africanos foram trazidos forçosamente para o Brasil.
Significa que nosso país foi o que mais recebeu africanos para serem
escravizados ao longo de 3 séculos em todo o continente americano.
África, números do tráfico atlântico – Luiz Felipe Alencastro