Sobre Espinhos
Sobre Espinhos
Ele estava só
Embora buscasse fazer parte daquele mundo
Tentava brincar com outros meninos
Aproximar-se, conversar,
Mas jamais seria acolhido.
Naquele momento de distração
Surgia um leve e sincero sorriso
Contrastava com o olhar assustado
Coração acelerado e tremor nas pernas
Ao ser destratado sem saber o porquê.
Olhos arregalados
Buscavam por alguém que nunca viu
Esperava por um dia que não chegava
Chorava enquanto a barriga roncava
Adormecia profundamente
Acordava delirante
Mais um dia para sobreviver...
O corpo fraco e ainda resistente
Ia de um lado a outro sem direção certa
Não tinha ninguém à sua espera
Perdido e sozinho numa multidão
Chorava lágrimas amargas
Uma dor que apertava o coração.
Descalço, caminhava sobre espinhos
Do descaso, do abandono, do preconceito
Julgado por nada e sem direito de defesa
Restava-lhe a fé nas palavras do padre
Único lugar que entrava e era bem recebido
Deus o acolhia, abraçava e lhe dizia:
Estou sempre contigo mesmo sem me ver.
Nilde Serejo