Sobre Espinhos

Sobre Espinhos

Ele estava só

Embora buscasse fazer parte daquele mundo

Tentava brincar com outros meninos

Aproximar-se, conversar,

Mas jamais seria acolhido.

Naquele momento de distração

Surgia um leve e sincero sorriso

Contrastava com o olhar assustado

Coração acelerado e tremor nas pernas

Ao ser destratado sem saber o porquê.

Olhos arregalados

Buscavam por alguém que nunca viu

Esperava por um dia que não chegava

Chorava enquanto a barriga roncava

Adormecia profundamente

Acordava delirante

Mais um dia para sobreviver...

O corpo fraco e ainda resistente

Ia de um lado a outro sem direção certa

Não tinha ninguém à sua espera

Perdido e sozinho numa multidão

Chorava lágrimas amargas

Uma dor que apertava o coração.

Descalço, caminhava sobre espinhos

Do descaso, do abandono, do preconceito

Julgado por nada e sem direito de defesa

Restava-lhe a fé nas palavras do padre

Único lugar que entrava e era bem recebido

Deus o acolhia, abraçava e lhe dizia:

Estou sempre contigo mesmo sem me ver.

Nilde Serejo

Nilde Serejo
Enviado por Nilde Serejo em 19/04/2022
Código do texto: T7498507
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