OUTONO DA VIDA
Não me venha dizer que eu já era
Nem me olhar com essa cara de piedade
Sendo eu do campo ou da cidade
Vou trilhando as labutas de minha lida
Vou vencendo as querelas desta vida
Vou quebrando os preconceitos da idade.
Te convido a sentar-te aqui comigo
A debater da vida certas verdades
A entender que a solidão se faz abrigo
Quando de nós se aproxima a tal idade
Sem que se possa mudar planos antigos
A mastigar, dos dias, o bagaço da saudade.
Se me julgas por meus passos lentos tortos
Desconsideras os meus caminhos tantos
Seu discurso me remonta aos meus mortos
Que outrora foram alvos daqueles “santos”
Busco não ser escravo dos insortos
De minha vida quero hoje os encantos.
Quando enfatizas os meus cabelos brancos
Como se minha vida não importasse pra você
Negas a beleza dessas marcas do remanso
Que o tempo trouxe pra mim e trará para você
A cumprir teu trajeto e no descanso
Compreenderás da vida o seu porquê.
Se apontas e zombas das minhas rugas
Sem ver que são as digitais de meus encantos
E achas que minha lucidez está em fugas
E por isso desejas me depositar em um canto
Da vida me arrancas e de mim sugas
A paz, a alegria e o acalanto.
Mas se ficas a criticar porque não enxergo
A dizer que minha mente anda inibida
E meus ouvidos não ouvem bater de prego
O olfato e o paladar não reconhecem a comida
A afirmar: “__ Você que é quase cego!”
É porque estou no outono de minha vida.
Se soubesses me ver como te vejo
Saberias que não fui, eu sigo sendo
O estereótipo de “velho” é um lampejo
Veneno da juventude sigo vendo
Se soubesses compreender o tal manejo
Verias que me refaço e vou vivendo.
Se teus olhos pudessem ver minh’alma
Entenderias o que se passa em meu mundo
Se tuas mãos em gestos a mim se espalmam
Me afagarias e me ressuscitarias em segundos
Verias que é a acolhida que me acalma
E que me afasta dos desgostos profundos.
Nessa época em que o tempo anda a galope
E o relógio é presença desenxabida
Nos meus sonhos faço versos danço xote
A aflorar as belezas esquecidas
Das levezas dos dias faço mote
Já que estou no outono de minha vida.
Obs.: Texto/Poema dedicado aos Querid@s Alun@s UATIAN@S/UFCG!