África pós-colonial

No campo minado,

a Inocência brinca,

na pele

de crianças

contentes...

Os pais, nas minas

garimpam os diamantes

que alimentam

certa riqueza,

que sai dali

para a Europa;

dali para o Japão;

dali para Cingapura,

para Dubai,

para os EUA...

Também fica ali,

mas para uns poucos, apenas:

os senhores da guerra

e da política.

Movidos pela Ganância,

são profissionais exterminadores,

étnicos e da inocência,

que transformam crianças

em “guerrilheiros” sem causa,

jovens sem porvir,

homens sem propósito,

mulheres enviuvadas,

violadas e prostituídas,

mães solteiras,

órfãs de filhos, estes

mutilados pelas minas terrestres,

e pelo abuso de poder,

que se camufla em uma

falaciosa revolução...

Pedaços de utopia

vão apressadamente levados

para as precárias instalações médicas,

e dali para o necrotério,

quase irreconhecíveis...

Nas cidades, a guerrilha.

No campo e na selva, também:

a Violência torna comum

a vida de todos,

pobres ou ricos,

mulheres ou homens,

crianças, jovens ou velhos,

negros ou brancos.

Ela já não assusta.

Não assombra ninguém:

Ela é banal...

O sangue, ali, é a cor da moda!

Os raios do sol são vermelhos,

a chuva é líquido vermelho.

Rios vermelhos serpenteiam

pelos vales,

e desembocam

em um mar de sangue...

Os Sonhos vão-se embora,

juntamente

com a Alegria, com os remédios,

com a comida, levando embora

a mínima Esperança

que também já agoniza.

Quem veio de mudança

e se instalou

de forma perene

foram a Fome e a Doença,

que paridas pela Guerra,

crescem bem nutridas

em todos os territórios por ali,

inclusive

no coração e na mente

dos seres humanos.

A irmã mais nova

já foi plenamente gestada

pelo ventre da Guerra…

Se a Violência, a Fome,

a Doença e a Morte

são paridas pela Guerra

(e esta é filha legítima da Ganância),

o Ódio foi abortado

como um inumano monstro disforme,

incumbido de aniquilar

de vez

a Paz,

e sepultá-la em tumba oculta,

sem Glória,

nem clamor ou Saudade...

Só que a Paz não jaz em paz!...

Travestida de Fênix Renascida,

ela subjaz em latência,

germinando/brotando

fortalecendo-se

à espera da Harmonia,

que há de vingar um dia,

nem que seja o último da vida,

ali, naquele continente desolado!…