A UM USUÁRIO DE DROGAS

Pediram-me um poema sobre o nada.

Eu, sobre o nada, fui dizendo tudo...

O tudo não aceitou, e perguntou-me furioso:

Para que falar do nada? o nada é mudo.

O nada não tem nada, não tem cor nem cheiro...

O nada não ronca ao travesseiro...

Eu sou o tudo, eu tudo tenho e tudo faço,

Eu sou a luz e as trevas, sou o cimo...

Sou o místico e o corpo, sou divino,

Sou a poesia e a flor, sou o carrasco...

Mas, quando o tudo perguntou quem era o nada,

O nada respondeu: - Sou a cocaína...

Eu sou o nada que eles pensam ser o tudo...

Mas sou o tudo para quem pensa em ser o nada.

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 23/11/2007
Código do texto: T748462