A UM USUÁRIO DE DROGAS
Pediram-me um poema sobre o nada.
Eu, sobre o nada, fui dizendo tudo...
O tudo não aceitou, e perguntou-me furioso:
Para que falar do nada? o nada é mudo.
O nada não tem nada, não tem cor nem cheiro...
O nada não ronca ao travesseiro...
Eu sou o tudo, eu tudo tenho e tudo faço,
Eu sou a luz e as trevas, sou o cimo...
Sou o místico e o corpo, sou divino,
Sou a poesia e a flor, sou o carrasco...
Mas, quando o tudo perguntou quem era o nada,
O nada respondeu: - Sou a cocaína...
Eu sou o nada que eles pensam ser o tudo...
Mas sou o tudo para quem pensa em ser o nada.