Apenas um grito (escrita em 2021)
Cansada dessa poesia pouca,
fofa, com arzinho juvenil,
carinha alegre, ar primaveril,
passarinhos batendo asinhas,
velhas frases com ar senil.
Meu poema quer esmurrar
a boca do mundo,
abrir as entranhas,
tirar do estômago
o vômito da hipocrisia
que se acumula, dia após dia.
E não tem nada fofo
nos cafofos imundos,
sujos, sem água ou comida.
Não tem nada fofo
em levantar com tantas
pessoas sem vida!
Que se dane quem não goste,
não sou planta nem mesmo poste
para me fazer de distraída,
de doida ou menininha esquecida.
O mundo dói e sangra a cada dia.
E vejo gente de alma suja,
racistas, homofóbicas, pedófilas,
taradas, violentas, ignorantes,
psicopatas, seguidores do Demo,
postarem sobre Deus, amor e fofuras!
Não, não dá para engolir mais
esse tipo de traste,
essa gente sombria e fria.
Meu poema berra, sacode,
de cima do ponto mais alto,
da portaria do mundo,
que há tanto anda sem vigilância.
Tá todo mundo demitido
dessa bagaça toda,
formada pelo que há de pior.
Parece outra espécie surgindo,
ou estavam camuflados, escondidos.
Seres que desejam acabar com tudo.
Não! Cansei de poemas fofos!
Meu poema quer esmurrar
a boca do mundo, para que vomite
toda a hipocrisia indigesta.
Assim quem sabe a gente
viva melhor o que nos resta.
Foto: Taciana Valença