Anônimo
Anônimo – Marta Souza
Pelos densos invernos da vida,
Sentindo a opacidade do tempo
Pernas trêmulas sob o regaço,
Sonhos despidos pelo cansaço.
Memórias vivendo o entardecer
Chora tristonho, desolado com
Palavras balbuciadas ao vento
Sem esperança e sem alento.
E ao relento, marginalizado,
Com ausência de cheiro
E esperança congelada,
Encolhido numa calçada.
Anônimo, escondido até de si,
Tudo que tenta é sobreviver
Para viver a próxima estação,
Sentir aquecido o coração.
E no antepenúltimo suspiro
Antes da penumbra lhe tomar
Se sente coberto pelo outono
Se entrega a um profundo sono.
Já num banco e bem aquecido
Dormiu por um bom tempo,
Mas despertou meio impreciso
Esboçando um tímido sorriso.
Ao recobrar sua consciência
Vê alguém em pé, contristado
Com um copo de leite quente
O observando ternamente.
E com palavras compassadas
Depois de reestabelecer, disse:
Deus lhe pague, muito obrigada
Vou seguir minha jornada!
Escrevi agora, relembrando uma cena que vivi quando eu trabalhava na Assistência Social.