Anônimo

Anônimo – Marta Souza

Pelos densos invernos da vida,

Sentindo a opacidade do tempo

Pernas trêmulas sob o regaço,

Sonhos despidos pelo cansaço.

Memórias vivendo o entardecer

Chora tristonho, desolado com

Palavras balbuciadas ao vento

Sem esperança e sem alento.

E ao relento, marginalizado,

Com ausência de cheiro

E esperança congelada,

Encolhido numa calçada.

Anônimo, escondido até de si,

Tudo que tenta é sobreviver

Para viver a próxima estação,

Sentir aquecido o coração.

E no antepenúltimo suspiro

Antes da penumbra lhe tomar

Se sente coberto pelo outono

Se entrega a um profundo sono.

Já num banco e bem aquecido

Dormiu por um bom tempo,

Mas despertou meio impreciso

Esboçando um tímido sorriso.

Ao recobrar sua consciência

Vê alguém em pé, contristado

Com um copo de leite quente

O observando ternamente.

E com palavras compassadas

Depois de reestabelecer, disse:

Deus lhe pague, muito obrigada

Vou seguir minha jornada!

Escrevi agora, relembrando uma cena que vivi quando eu trabalhava na Assistência Social.

Marta Souza
Enviado por Marta Souza em 21/03/2022
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