Num papel de pão

Olhando para o futuro

que pode nem existir

Mas com alma libertária

ainda que em vida escravizado

E esperando na fila eterna

Escreveu o poema

no verso do boleto

O artista obscuro

Viverá póstumo

Em linhas escritas

Num papel de pão

Subvertendo fórmulas e gêneros

Ignorando a razão

Sem lugar no mercado da vida

Eternizado numa compilação

E na miséria estética que nos cerca

Vive como louco

Morre como poeta

Olhando para o passado

Sua boca sorri

E seus olhos são tristes

Mas já teve em vida

a recompensa

Um copo d’água da torneira

do calvário da farsa midiática

Faz muito com pouco

Morre como gênio

Vive como louco