Sortiedade Meritocrática

Tomei um café rápido e um tanto cálido

Me vesti rapidamente e sai para uma rua inóspita

Carros passando sem piedade de uma forma célere

Subcelebridade em um outdoor pensando que era célebre

Passei por um pedinte vestido um tanto esquálido

Mil prédios pela frente e o meu era o mais pálido

O trabalho que eu fazia só me causava tédio

E o dinheiro pro fim do mês não mais que um remédio

Não poderia dizer que meu saldo é plácido

E todo dia vivia na mesma sintonia fúnebre

Conduzido pelo lucro mas sempre tão lúcido

Mil vezes pensando que é algo passageiro e talvez esporádico

Pensava até que o roteirista da minha vida era algo sádico

'Meu pai lutou por isso' - dizia o filho do médico

Enquanto o filho do político negava um desvio hiperbólico

E o pobre lamentava a fome, um tanto melancólico

'Estude pra ser alguém' - dizia o pai, crendo em algum poder de cunho enciclopédico

Com tanta gente esbanjando saldos um tanto estapafúrdios

Me dói o miocárdio ver tanta gente comendo lixo como se fosse escória!

A burguesia servindo-se com pães-de-ló e banquetes homéricos

O pobre despejando a fé em pedidos esotéricos

Confiando sua sorte em bilhetes lotéricos

Desde que o mundo é mundo, no começo da História!

Cristian Arantes
Enviado por Cristian Arantes em 10/03/2022
Código do texto: T7469598
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