Sortiedade Meritocrática
Tomei um café rápido e um tanto cálido
Me vesti rapidamente e sai para uma rua inóspita
Carros passando sem piedade de uma forma célere
Subcelebridade em um outdoor pensando que era célebre
Passei por um pedinte vestido um tanto esquálido
Mil prédios pela frente e o meu era o mais pálido
O trabalho que eu fazia só me causava tédio
E o dinheiro pro fim do mês não mais que um remédio
Não poderia dizer que meu saldo é plácido
E todo dia vivia na mesma sintonia fúnebre
Conduzido pelo lucro mas sempre tão lúcido
Mil vezes pensando que é algo passageiro e talvez esporádico
Pensava até que o roteirista da minha vida era algo sádico
'Meu pai lutou por isso' - dizia o filho do médico
Enquanto o filho do político negava um desvio hiperbólico
E o pobre lamentava a fome, um tanto melancólico
'Estude pra ser alguém' - dizia o pai, crendo em algum poder de cunho enciclopédico
Com tanta gente esbanjando saldos um tanto estapafúrdios
Me dói o miocárdio ver tanta gente comendo lixo como se fosse escória!
A burguesia servindo-se com pães-de-ló e banquetes homéricos
O pobre despejando a fé em pedidos esotéricos
Confiando sua sorte em bilhetes lotéricos
Desde que o mundo é mundo, no começo da História!