O Soterrado
Estou soterrado, habitando os escombros do mundo,
O mais longe possível dos lares que eu deveria morar.
Com dores enxergo por sobre as frestas que pouco iluminam.
Eu sobrevivo nas sucatas deixadas nos lixos civilizatórios
Enquanto as armadilhas de discursos não limpam os escombros.
Estou perdido entre as hipocrisias do cristianismo, com a cabeça atada,
A contragosto, aos ideais liberais que não libertam de nenhuma miséria.
Estou alimentando uma overdose de hábitos consumistas,
Perdendo a sensibilidade perante tanto sangue a jorrar na tv.
E pelas ruas os moços se entopem de trivialidades high techs.
Lá fora o sol aparenta irradiar raios que incentivam a libertação.
Será a luz de um ledo engano? Um astro de uma fugida utopia?
O tempo é árido entre as conversas dos homens nas esquinas.
É melhor gritar rumo a uma incerta aurora?
É isso ou a certeza do soterramento?