Os Tormentos dos Brincantes Carnavalescos
Na quarta-feira de cinzas tudo acabou, findou o sonho de um corpo embalado por folias.
No canto da casa, a roupa empoeirada, a fantasia muito castigada. Agora é tudo inútil!
O amanhã, o agora e os demais dias do ano presos no turvo cotidiano.
Eles arrastam sandálias (outrora enfeitadas) como obedientes carneiros.
Pois agora são meras peças exploradas por envaidecidos patrões...
Trabalhar, defecar, comer e respirar fumaça como robôs bem programados.
Distantes dos sambas enredos e enfurnados nos arejados concretos burocráticos,
Os brincantes andam atribulados com trabalhos protocolares, preocupações,
Dário de bordo de criaturas pisoteadas em nome do pandemônio financeiro.
E num enredo kafkiano, a metamorfose de homens em insetos,
A liberdade tornando-se servidão, a fábrica da exploração racionalizada.
Ao contrário do canto de Cartola, não finda a tempestade, muito menos nasce o sol.
Enclausurados como máquinas, imperturbáveis em nome do rendimento de niqueis,
Sentem o fim da folia nos termos de Jobim - a felicidade oscilou como lágrimas de rancor.
Gritarias não pipocam mais nas ruas, apenas a dura sentença:
Seja bem-vindo a máquina – coma, sonhe, mas produza capital até o raiar de sua lápide.