Os Tormentos dos Brincantes Carnavalescos

Na quarta-feira de cinzas tudo acabou, findou o sonho de um corpo embalado por folias.

No canto da casa, a roupa empoeirada, a fantasia muito castigada. Agora é tudo inútil!

O amanhã, o agora e os demais dias do ano presos no turvo cotidiano.

Eles arrastam sandálias (outrora enfeitadas) como obedientes carneiros.

Pois agora são meras peças exploradas por envaidecidos patrões...

Trabalhar, defecar, comer e respirar fumaça como robôs bem programados.

Distantes dos sambas enredos e enfurnados nos arejados concretos burocráticos,

Os brincantes andam atribulados com trabalhos protocolares, preocupações,

Dário de bordo de criaturas pisoteadas em nome do pandemônio financeiro.

E num enredo kafkiano, a metamorfose de homens em insetos,

A liberdade tornando-se servidão, a fábrica da exploração racionalizada.

Ao contrário do canto de Cartola, não finda a tempestade, muito menos nasce o sol.

Enclausurados como máquinas, imperturbáveis em nome do rendimento de niqueis,

Sentem o fim da folia nos termos de Jobim - a felicidade oscilou como lágrimas de rancor.

Gritarias não pipocam mais nas ruas, apenas a dura sentença:

Seja bem-vindo a máquina – coma, sonhe, mas produza capital até o raiar de sua lápide.

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 26/02/2022
Reeditado em 26/02/2022
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