O palhaço

2003, em algum lugar do Chile (E ao som de Last Man Standing)*

Bastardos

E senhoras e senhores… Boa noite!

Se aproximem, cheguem mais perto.

Venham conhecer um palhaço de verdade!

Posso não ser tão sério como alguns…

Mas ao menos eu sou sincero!

Diferente daqueles atiradores de facas pontiagudas (e indiretas)

Que vivem a circular por aí,

Sem enxergar o próprio umbigo

Por lá, por acolá, ali… E olhe, também aqui!

Ah, se eles olhassem pra si próprios…

Enxergariam alvos também em suas testas!

(pena, pois parece que são cegos, além de inúteis)

Ah, você não está rindo?

Desculpe se eu não lhe avisei (que cabeça, a minha!)

Palhaços de verdade não são feitos pra te fazer rir

Mas sim, pra te trazer felicidade,

Para te aguçar (ou reviver)

A tua mais vital sensibilidade!

Diferente dos mágicos exibidos (copiadores)

Que vivem a se mostrar

Com suas surpresas e números (copiados)

Nada que seja realmente da cachola deles…

E ainda se acham os “fodões”, esses mágicos!

Vivem apenas:

Copiando e colando

Copiando e colando

Copiando e colando

E agora, eu te fiz rir? (espero que não)

Porque eu já disse…

Agora quem não disse, ou melhor, quem nunca diz

É essa platéia calada, que fica a visualizar

Incólume (como diriam os mais tolos, metidos a sábios)

Medrosos, apenas a espiar a difícil tarefa deste palhaço,

“O último dos sensíveis”

Assistindo aos seus tropeços

Empanturrados que estão com suas misérias,

Perdendo, ao não apoiar um palhaço,

Que apenas tenta tocar pra frente este espetáculo (quando todos já perderam a fé)

Um espetáculo

Para um público cada vez mais minguado,

E carente: de emoção!

Cadê a emoção?

Talvez seja culpa do dono, o mestre, do picadeiro,

Que também atua como atirador de facas,

Também faz mágica, e, claro,

É palhaço (dos mais fracos, a se perceber)

E desde já, eu entrego minhas desculpas,

Como também uns mil perdões,

Por tamanha leviandade,

Mas já passava da idade,

Deste palhaço aqui, bancar o idiota,

Ao menos mais uma vez.

Senão, três (vai saber).

Claucio Ciarlini (2013)

* Da minha série poética "20 dias de Bon Jovi". Micro momentos da vida de 20 personagens, cada qual em um lugar, época e ao som de uma canção da banda. Também possui uma imagem, mas infelizmente não dá pra colocar aqui.

Claucio Ciarlini
Enviado por Claucio Ciarlini em 24/02/2022
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