A LEI DA PENA DE MORTE
GUERRA JUNQUEIRO
E vós dizeis: Salvemos a moral do templo,
pois todo o grande crime exige um grande exemplo.
Mas se o vosso exemplo é assassinar,
nesse caso o exemplo que ides dar,
já ele o deu primeiro, o criminoso; então,
ele é o original e vós a imitação.
Porém, há entre vós enorme diferença:
ele é uma paixão e vós uma sentença.
Vós assassinais com calma, inexoravelmente;
vós sois o punhal frio, ele, o punhal demente;
vós tendes a consciência inteira do assassínio.
Ele é o desespero e vós um raciocínio.
Perante a lei da morte, o bandoleiro atroz
é menos responsável, ainda que feroz.
Se o crime é hediondo, a lei produz horror.
É como um juiz mudado em salteador,
é a concentração diabólica do mal
e depois transformada em código penal.
Enfim: assassinar um homem que assassina
é por o Direito ao pé da guilhotina.
Postado por zilda santiago