ninguém atende
Há um choro fino de cão que ninguém atende
Há uma mãe que chora por seu filho
E ninguém atende
Há uma mão erguida em pedido
que fica vazia
E ninguém atende
Há sempre mais uma prece,
Um rogo
Aquele que implora atenção
E ninguém atende
Há uma lágrima que escorre em plena treva
Ninguém vê
Mas todos a pressente
Há uma lástima ruidosa que percorre
a sala
Há uma leve brisa a acariciar a montanha
Que intrépida permanece erguida em cenário
O que as montanhas pedem aos céus?
O que as mães pedem pelos seus filhos?
O que faz essa mão pedinte
a esmolar pelo caminho?
Para tudo isso
Ainda não tenho respostas
Me falta o gabarito da vida
E nessa infindável maeutica
Vivo a esmolar lógica e sanidade.
Mas tudo é tão insana e insólito
Mas tudo é tão caótico e coerente
Que de paradoxo em paradoxo
Sigo a perceber aqueles que invisíveis
Ninguém atende.
O telefone toca
E ninguém atende
A essa altura o irrespondível
Silêncio é a resposta para todas
As agonias
que cíclicas perpetuam-se,
Multiplicam-se.
Não posso partir
A âncora amarra-me
Porque você permanece
Sob a ilusão do farol.
Se tudo é treva
Se tudo é pedido
que ninguém atende.