Canalhas!

Não se move nem se espalha,

Imóvel como a bala,

Que sai do cano torto,

Da espingarda velha.

Tão bela como a praia,

Molhando as canela dela,

Na foto do desbotado quadro,

Em frente da janela.

Espera...

Não derrete a vela acesa,

Amarela...

A cor das sua rubra face,

Tão meiga e singela.

Seus lábios entre abertos,

A língua serpenteia e cala,

Não grita... Vida... Sofrida,

Emerge e vinga.

E limpa...

O sangue...

Espirra!

Manchando a imagem imaculada.

Da Virgem.

Não para a granada que espalha,

Como uma patada de mula.

A louca insanidade,

A verdade nua e crua.

Os olhos desbotados,

Não vêem nuvem turva.

Chove...

Mergulha...

A lama...

Continua.

E o sangue negro.

Se mistura.

Canalhas...

Nas ruas.

Matam...

Contínua luta.

Canalhas...

Antonio Candido Nascimento
Enviado por Antonio Candido Nascimento em 18/02/2022
Código do texto: T7455417
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