Nessa selva de ódio, meninos viram demônios
Já me arrancaram lágrimas
tiraram minha paz infantil
me deitava em casa, em lastimas
cansado de cada comentário hostil
Atacado, feito de piada
o bobo da corte, sendo zombado
aquilo fazia eu me sentir um nada
excluído, pária, o lixo descartado
Quantas vezes pensei em não sair
mas solitário, só queria brincar
e as palavras voltavam a me ferir
queria fazer tudo aquilo parar
Cansei de ser silenciado
ter a minha voz negada
aquilo me deixava cansado
mas em terra de gigantes,
não podia fazer nada
Aprendi a revidar
que aquela forma era respeito
todos comecei assim tratar
minha língua aprendeu a expor cada defeito
Fui mestre da dor
me diverti com o sofrimento
era essa a forma de me impor
me deixar grande, o fazer do meu momento
Me blindei com a indiferença
nada mais me importava
minha apatia era tão imensa
que nenhum comentário me abalava
Machuquei quem amava
pra então entender que eu estava errado
me fiz sangrar sempre que errava
pra então deixar morrer aquele meu lado
Entendi que só o amor liberta
e que todo mundo precisa ser amado
deixei minha alma aberta
pra acolher com ela, cada ser abandonado
O mundo quer pregar a violência
“tu és homem, faça valer os hormônios”
uma cultura de não viver, mas de sobrevivência
nessa selva de ódio, meninos viram demônios