Nessa selva de ódio, meninos viram demônios

Já me arrancaram lágrimas

tiraram minha paz infantil

me deitava em casa, em lastimas

cansado de cada comentário hostil

Atacado, feito de piada

o bobo da corte, sendo zombado

aquilo fazia eu me sentir um nada

excluído, pária, o lixo descartado

Quantas vezes pensei em não sair

mas solitário, só queria brincar

e as palavras voltavam a me ferir

queria fazer tudo aquilo parar

Cansei de ser silenciado

ter a minha voz negada

aquilo me deixava cansado

mas em terra de gigantes,

não podia fazer nada

Aprendi a revidar

que aquela forma era respeito

todos comecei assim tratar

minha língua aprendeu a expor cada defeito

Fui mestre da dor

me diverti com o sofrimento

era essa a forma de me impor

me deixar grande, o fazer do meu momento

Me blindei com a indiferença

nada mais me importava

minha apatia era tão imensa

que nenhum comentário me abalava

Machuquei quem amava

pra então entender que eu estava errado

me fiz sangrar sempre que errava

pra então deixar morrer aquele meu lado

Entendi que só o amor liberta

e que todo mundo precisa ser amado

deixei minha alma aberta

pra acolher com ela, cada ser abandonado

O mundo quer pregar a violência

“tu és homem, faça valer os hormônios”

uma cultura de não viver, mas de sobrevivência

nessa selva de ódio, meninos viram demônios

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 06/02/2022
Reeditado em 06/02/2022
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