O Rude
Realidade dói,
E não é consumida,
Indigesta,
Fria,
Cutuca,
Abre feridas.
Realidade vive em bancos e calçadas,
Pedindo ajuda,
Em meio ao frio da madrugada.
Realidade é o que vê e não se come,
Um fast-food lotado,
E fora um menino que com os olhos consome.
Realidade é a mãe que caça,
E não dorme,
Desempregada,
Trava guerras todos os dias,
Contra a impiedosa fome.
Realidade é uma forma de amor,
Que a ilusão exclui,
Paixão frente a fome que mata,
Desilusão que a verdade produz.
A fome é vento,
Paixão é brisa,
Um choro de sofrimento,
Lágrimas o amor propicia,
Um sol que a seca propaga,
Um outro bronzeia,
Acaricia,
No limbo a incerteza é exata,
Ilusão deixa a mente vazia,
Sensível escreve à amada,
O rude as chagas da vida.
Eu,
Cavando minha cova com minhas palavras,
Elas lutam contra um fim,
A derrota é certa,
Mas nunca se dão por vencidas.