Diante de um céu indiferente

O céu indiferente nos viu

em navios cemitérios

em que nossa música

era sangue e pranto

O céu indiferente nos viu

em plantações demoníacas

em um pesadelo sem manhã

e nossa música era chuva

o inferno amenizando

O céu indiferente nos viu

quando os brancos assinaram a Lei

e mandaram a polícia apagar

as cores escuras

fundamos a favela

e nossa música despertava

antigos deuses

O céu indiferente nos viu

nos ônibus

nas fábricas

nos guetos

nas miras dos policiais

nossa música foi roubada

Indiferentes ao céu indiferente

invadimos

universidades

palácios

noites felizes

manhãs perdidas

quando não nos matam

ficamos mais fortes

nossa música é

sonho

celebração

futuro

a lágrima persistente

o sorriso resistente

nossa música é tijolo

do reino vindouro.

#consciencianegra