Corredores da dor
Procurando ajuda nos corredores da dor
vi pessoas sem identidade
onde o valor moral
vale quanto sem tem na carteira
o pinga-pinga de sangue na cadeira
que serviu de maca na falta de leito
do leito ausente pro soro positivo
a espera do coquetel
trazido com má vontade às cobaias.
Alma penalizada aguardando sutura
põe-se a chorar
num canto a espera de luz
velhice chegada
por um pulmão doente
entrando quimioterapia lentamente
com lembranças sadias.
Dor e horror
misturam-se na ausência de dinheiro
descaso à toa por todos os olhares
consulta anual
desmarcada por óbito ou médico ausente.
Saúde doente do ente querido
falácia oculta por guichê fechado
deixados aos bretes com suas chagas
sem soluços ou gemidos silenciosos
esquecidos na madrugada
na fila que não incomoda
paciência tem limite, ausente na fila.
No outro lado do prédio
Corredor sem mofo e bem iluminado
transitam pessoas bem tratadas
com suas bolsas à tira-colo.