Choro
Choro por estar de mãos atadas,
Boca fechada,
Em respeito a quem tem outra opinião,
Vivemos em democracia,
Uns sim,
Outros talvez não.
Choro pelos que por imprudência do poder se foram,
Pela mãe que chora a morte do filho,
Pela família desfeita,
Uma tragédia anunciada,
Pelos que aguardavam nos leitos,
Enquanto a vacina não chegava.
Choro pela incoerência dos governantes,
Pois só pensam em poder,
Choro por quem pode gritar e se cala,
Pois um partido tem que obedecer,
A morte de um pensamento coletivo ou ideologia anunciada.
Choro pela fome que dói,
Pelo desespero de um pai e uma mãe de família,
Catando ossos para mistura,
Sem imaginar como será o futuro,
Limita-se a conquistar a refeição do próximo dia.
Pela falta do emprego,
Pela honra despejada na latrina,
Dignidade em prateleiras de supermercados,
Quem pode tem,
Quem não tem,
Pela falta,
Se arrisca.
Choro pelo fogo na mata,
Pelos animais queimados,
Sacrificados em vida,
Pela falta d'água,
Pelo valor que todos desembolsam pela crise hídrica.
Choro pela alta da gasolina,
Principalmente do gás de cozinha,
Improvisa o fogo,
Esquenta a panela,
Nem água,
Meio vazia.
Também choro no banheiro,
Não durmo bem a alguns dias,
Porém,
Quando olho no espelho,
Não sinto o peso da maldade e covardia.
Posso fazer e gritar sozinho,
Ao contrário de você,
Sou a favor da vida,
Opressores choram pelo poder,
Oprimidos, pelas panelas vazias.
Apesar do choro,
Minhas mãos e mente trabalham.
De grão em grão,
Vai alcançando minorias.
Há quem não goste de minhas palavras,
Mas vem da alma,
Essa minha forma de expressar,
Toda minha rebeldia.