Brutalização humana
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo são olhos sem brilho
Boca seca sem sorriso
Marcas profundas na pele ainda jovem
Queimada pelo sol.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo são mãos sujas estendidas
Maltratadas
Precocemente envelhecidas
Brutalizadas pela vida.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo é um corpo encurvado
Que exala o cheiro da perversa sociedade de classes
Que joga na sarjeta sem escrúpulos
Corpos de homens, mulheres e crianças.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo é um ser com fome na calçada
A mendigar as sobras na porta do restaurante
Incomoda
É intimidado
Aguarda as sobras serem postas no lixo.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo é um ser que revira o lixo
Na ânsia de encontrar algo que mate a fome
Possa encostar a cabeça num lugar qualquer
E dormir sem sonho.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo é um corpo encolhido
Cansado da luta para comer
Tendo que observar o esbanjamento
O desperdício
E recorrer ao lixo.
Tento enxergar uma imagem humana
Mas o que vejo é um explorador
Insensível à miséria humana
Um acumulador sem limite
Um abutre
Que fede insuportavelmente.