O AFAGO DA MORTE
Caminho pelas ruas cinzentas entre operários
Assim como eu perderam o rumo
São trabalhadores, porém desempregados.
A flor d’antes colorida hoje cinza, sem vida
Eu, operário, sem emprego, otário, solitário,
Mas em meio a tanta gente.
Cheiro de esgoto e lama
Que me deixa enojado, enjoado.
Onde está meu voo?
Onde está minha classe?
Tenho asas, sem chances para voar.
Não, não pode ser normal
Está tudo tão individual
É como um jogo, é um jogo
Do salve-se quem puder.
O tiro vem de todos os lados
Discursos reticentes
Cheio de palavras lindas,
 Entretanto tão vazias.
O sol queima, todavia sem vida
A chuva cai, entretanto, ácida.
E a acidez dos sorrisos
Falsos, disfarçam as dores
E os amores...que amores?
Tudo aqui está tão diferente
A loucura tomou conta da gente
Da morte somos clientes
Da vida somos inimigos.
O que aconteceu com você?
O que aconteceu comigo?
Ah, não sei, minhas palavras,
Minhas ideias desconexas
É o fim, é o fim!
Todos me veem,
Mas ninguém liga para mim
Que arqueja numa vala
Que respira, que fala,
Porém a morte já beija
E acaricia minha face
A única que sem disfarce
Jura que me ama.
Está bem, sem drama
A fome me devora
Já é hora, adeus!
Estou indo embora.