OS PÃES
Enquanto a donzela empurra o carrinho de compras
O caos se instala no tempo-espaço...
Ela observa cuidadosamente os enlatados
E na tela os engavetados do IML local
Escolhe, por vez, os itens de limpeza
E esbraveja à caixa distraída, traída na ausência:
Mais uma mãe de cinco e sozinha!
A alva moça lembrou-se dos frios
Enquanto passam desnudos pedintes
Pelo lado de fora da muralha de vidro
Qu’eu não me esqueça dos pães! Exclamou.
Enquanto “a massa” descansa sob o sol da labuta
As mãos macias e hidratadas empurram o carrinho quase cheio
Sobre o mesmo chão tomado de barrigas vazias
A suntuosa narcisa estético perfeita
Flutua pelos corredores e colhe amoras embaladas a vácuo
Enquanto habilidosos cortadores canavieiros
Decepam os dedos em frenéticos movimentos
Garantido o açúcar mascavo da sociedade saudável
Das meninas de quinze na casa dos sessenta
Qu’eu não me esqueça dos pães!
Uma passadinha no setor de rações para fechar
Um mês de filho nutrido!!
E o olhar ressequido de mãe cansado de chorar
Nas noites por seus filhotes virulentos
Se dispersa nas entrelinhas da vida perfeita
A donzela paga a conta e faz de conta que não existimos
Retira-se para logo voltar
E, novamente, esquecer-se dos pães...