OS PÃES

Enquanto a donzela empurra o carrinho de compras

O caos se instala no tempo-espaço...

Ela observa cuidadosamente os enlatados

E na tela os engavetados do IML local

Escolhe, por vez, os itens de limpeza

E esbraveja à caixa distraída, traída na ausência:

Mais uma mãe de cinco e sozinha!

A alva moça lembrou-se dos frios

Enquanto passam desnudos pedintes

Pelo lado de fora da muralha de vidro

Qu’eu não me esqueça dos pães! Exclamou.

Enquanto “a massa” descansa sob o sol da labuta

As mãos macias e hidratadas empurram o carrinho quase cheio

Sobre o mesmo chão tomado de barrigas vazias

A suntuosa narcisa estético perfeita

Flutua pelos corredores e colhe amoras embaladas a vácuo

Enquanto habilidosos cortadores canavieiros

Decepam os dedos em frenéticos movimentos

Garantido o açúcar mascavo da sociedade saudável

Das meninas de quinze na casa dos sessenta

Qu’eu não me esqueça dos pães!

Uma passadinha no setor de rações para fechar

Um mês de filho nutrido!!

E o olhar ressequido de mãe cansado de chorar

Nas noites por seus filhotes virulentos

Se dispersa nas entrelinhas da vida perfeita

A donzela paga a conta e faz de conta que não existimos

Retira-se para logo voltar

E, novamente, esquecer-se dos pães...

El Caronte
Enviado por El Caronte em 04/10/2021
Código do texto: T7356665
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.