Balada de um pedreiro nordestino
O nome é fictício, mas o acidente ocorreu, e poderão ocorrer em alguma construção, principalmente aquelas que não são devidamente fiscalizadas.
Muitos vêm de várias regiões do país em busca de uma oportunidade, mas principalmente do nordeste. Como são em parte desprovidos de uma melhor qualificação profissional, encontram nas construtoras, uma oportunidade para aprenderem um ofício, para mais tarde retornar ao seu local de origem, ou viver na metrópole.
Quando chegam, eles vão trabalhar na construção de casas, edifícios, ou grandes obras. Muitas vezes sem equipamentos de proteção, sem amparo legal, e trabalhando em condições de alto risco, isso quando não são contratados pelos “gatos”, (os atravessadores), por um salário irrisório...
Para descarregar suas desilusões, alguns buscam no álcool e nos forrós, uma fuga.
Trabalhei num canteiro de um terminal rodoviário, e pude presenciar ali, pessoas com baixa formação escolar, homens carentes de uma assistência médica descente, e vivendo em alojamentos imundos. Raimundo era um deles, e há quinze dias viera do estado do Ceará. Caiu de uma altura de seis metros em cima de uma armação de ferro. Não usava capacete, luvas, ou cinto de segurança... Quero também a eles, dedicar esses versos:
BALADA DE UM PEDREIRO NORDESTINO
Veio do norte, Raimundo Francisco,
Na obra servir como um reles peão...
O rosto era pálido, e a fria marmita,
Guardou no armário de um barracão...
Pegou o martelo e o alicate de corte,
E de alma contrita, fez uma oração.
O jovem pedreiro pensando no norte,
Dobrou um arame e furou sua mão!
Meio-dia Raimundo parou p'ra comer,
Lembrou-se dos pais e de outro irmão.
Bebeu uma dose p'ra vida esquecer,
Pegou a marmita e sentou-se no chão...
A pobre marmita era apenas a sobra,
Dum ovo cozido com arroz e feijão...
Raimundo sozinho voltou para obra,
Chorando baixinho em seu coração...
Pensou na esposa que um filho gerava,
Num pobre barraco em um pontilhão...
Raimundo no alto caiu de onde estava,
Perdeu seu martelo e junto a atenção!
O pobre Raimundo, a morte embalava,
Seu corpo estirado, jazia ao léo!
Enquanto a esposa com o filho sonhava,
A obra levava Raimundo ao céu...