Filhos enjeitados

Fui o primeiro dos filhos que nossa mãe pariu

Mãe gigante, terra rica, de nome Brasil.

Sua beleza a cobiça despertou

Pesadelo, dor, tristeza em meio peito ecoou.

Teus outros filhos, não me quiseram como irmão

Disseram que eu era rude, não merecia proteção

Ainda assim, esperei por tua clemencia

Mas minha mãe, tu calaste fingindo demência!?

Fui entregue à própria sorte, quase definhei.

Gripe, varíola e outras epidemias enfrentei

Oh minha mãe! Por que sou o filho enjeitado?

Que mal eu fiz, para ser por meus irmãos odiado?

Eu vi meus filhos, teus netos e os netos de meus filhos

A vida sucumbir. Kambeba, Tikuna, Bororo, Guarani

Ainda sofrem na pele essa desgraça parental

Que a nós renega tudo, até a saúde, um direito universal.

Nestes tempos de COVID todo o mundo pôde ver

Que o amor da “Mãe gentil” a seus filhos não é igual

Que mãe é essa que se cala em meio à morte e sofrimento?

Finge não ver a dor de um filho e seu grito de lamento?