INFÂNCIA CALOSA
INFÂNCIA CALOSA
Na barriga apenas um pedacinho de pão.
Saio cedo pra trabalhar, não vou à escola.
O cabo da foice, que minha mão esfola,
Me causa dor, revolta, fere meu coração.
Eu devia ter um lápis e não uma enxada.
Ter um lindo caderno para nele escrever.
Um livro didático que me ensinasse a ler.
E pra aprender a fazer contas, a tabuada.
Não quero apenas escrever o meu nome
Para quando crescer ter um título e votar,
Naquele que hoje me obriga a trabalhar,
Por um salário que mal dá pra matar a fome.
Nenhuma criança é livre sem educação,
Trabalhando na terra para um rico senhor,
Que bota o filho na escola, quer ele doutor,
Para não viver como eu nessa escravidão.
Nada na vida sem cultura se conquista.
Aqui neste mundo só tem oportunidade
Aquele que estuda, essa é uma verdade,
Podendo ser doutor, quiçá um cientista.
Homem, que mal lhe fiz para me fazeres sofrer?
Não vês que eu sou apenas uma criança
Que não quer crescer cultivando a ignorância.
Preciso estudar, tenho que aprender a ler
Como pode dormir tranquilo um empresário
Que uma criança pobre vive a escravizar,
Roubando dela qualquer possibilidade de estudar,
Pagando o suor que ela derrama, com mísero salário?
Neste país de Deus o menino que é pobre
Cresce sem educação, sem nenhum direito.
Por essa criança alguns senhores não têm respeito.
Só respeitam a criança se ela for de origem nobre.
Mas se esse portentoso senhor não quer sentir
A dor de dominar uma criança como um servil escravo,
Tenha certeza, Papai do Céu com ele deve estar bravo
E dos Seus duros castigos ninguém pode
fugir.
Bira Galego