O Luto
Quebrada calada,
Favela vazia,
Luto,
Por morte,
Se foi o Josias.
Não era um santo,
Nem vagabundo,
Sonhava em vencer,
Ganhar o seu mundo.
Quinto, Bola, Cavaco e Raimundo,
Melhores amigos,
Laços profundos.
O que na Terra fica,
Se torna fecundo,
Plantaram o menino,
Assim nasce o luto.
Um cheiro de vela,
Um fraque noturno,
As flores que ornam,
Um corpo,
Defunto.
Esperança se apaga,
E um desejo profundo,
Que tudo termine,
Tamanho absurdo.
Quem prega a pseuda cura,
Em sangue se banha,
E a boca calada,
Da força a artimanha.
Hoje o Estado não "banca" mais Josias,
Governo comemora,
Menos um para o bolsa família.
Desempregado,
Preto de periferia,
Vítima de um plano,
Matar as "minorias",
Choram esposas,
Filhos e filhas,
Órfãos estruturais,
Vidas perdidas.
O padre reza,
A vela queima,
As flores murcham,
Vidas alheias.
Boca calada,
Poder bloqueia,
O choro é livre,
E falta a ceia.
A força é bruta,
Tem resistência,
Mas o que gera,
É persistência.
Na artilharia,
Não há prudência,
Se descuidou,
Finda existência.
A boca fala,
E a dor cala,
Fome é cabresto,
Quando se espalha.
Ferida aberta,
Pela navalha,
Restos alimentam,
Quem não tem nada.
Um bicho homem,
Liberdade negada,
Corpo liberto,
Alma trancada.