O Luto

Quebrada calada,

Favela vazia,

Luto,

Por morte,

Se foi o Josias.

Não era um santo,

Nem vagabundo,

Sonhava em vencer,

Ganhar o seu mundo.

Quinto, Bola, Cavaco e Raimundo,

Melhores amigos,

Laços profundos.

O que na Terra fica,

Se torna fecundo,

Plantaram o menino,

Assim nasce o luto.

Um cheiro de vela,

Um fraque noturno,

As flores que ornam,

Um corpo,

Defunto.

Esperança se apaga,

E um desejo profundo,

Que tudo termine,

Tamanho absurdo.

Quem prega a pseuda cura,

Em sangue se banha,

E a boca calada,

Da força a artimanha.

Hoje o Estado não "banca" mais Josias,

Governo comemora,

Menos um para o bolsa família.

Desempregado,

Preto de periferia,

Vítima de um plano,

Matar as "minorias",

Choram esposas,

Filhos e filhas,

Órfãos estruturais,

Vidas perdidas.

O padre reza,

A vela queima,

As flores murcham,

Vidas alheias.

Boca calada,

Poder bloqueia,

O choro é livre,

E falta a ceia.

A força é bruta,

Tem resistência,

Mas o que gera,

É persistência.

Na artilharia,

Não há prudência,

Se descuidou,

Finda existência.

A boca fala,

E a dor cala,

Fome é cabresto,

Quando se espalha.

Ferida aberta,

Pela navalha,

Restos alimentam,

Quem não tem nada.

Um bicho homem,

Liberdade negada,

Corpo liberto,

Alma trancada.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 23/06/2021
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