Filho do medo
Filho do medo.
Sou criança descalça e no asfalto quente
Peço a esmola para matar minha fome.
Ela é a doença que meu corpo consome
E me faz preguntar: será que sou gente?
No meu rosto o olhar de medo, sem vida,
E os lábios rachados pelo calor do sol
Me fazem pedir que de mim tenha dó,
Pois lá no meu barraco não tem comida.
Vivo por viver, não alimento esperança.
Moro no morro tomado pelo banditismo,
Figurando como vítima do letal egoísmo
Do homem cruel, da sua podre ganância.
Se o senhor visitasse um dia o meu lar,
Veria que lá não tem água, luz ou amor.
Talvez se apiedasse desta infame dor
De ter que mendigar para a fome matar.
Sou vítima do homem que se diz nobre,
Se auto nomeia como dono do mundo,
Espalha pelo Brasil seu ódio profundo
Com preconceito pelo preto e o pobre.
Eu não vou à igreja, mas aprendi a rezar.
Com toda a crença em Deus, O Criador,
Rezo pra Ele, meu Santo Deus Protetor,
Dar-me coragem para que eu possa lutar.
Sei, para o Criador não existe segredo.
Ele conhece aquele que é bom ou é ruim.
Com a proteção Dele arraigada em mim,
Eu vencerei! Mesmo sendo filho do medo.
Bira Galego.