O capital

Tenho fome, logo consumo

Encaranco as costelas do porco

E degolo a galinha

Torço a vida de suas carcaças

Quero mais

Multiplico os peixes

Quebro tuas unhas

Bebo do seu suor

Engordo de teu desespero

Me deleito em sua revolta

Mas ainda sinto fome

Como o queijo da ratoeira

E extermino os ratos

Se me deixas para perecer

Devorarei até os vermes

Carne, e sangue, e consciência, e democracia

Abro a boca

Ranjem meus ossos e ronca meu estômago

Me quero

Só eu

E todos nós

E eles

E minhas entranhas

Minha carne suculenta

Meu dinheiro

Meus bens

Me devoro

Sou deliciosa

Julia Moraes
Enviado por Julia Moraes em 21/05/2021
Reeditado em 21/05/2021
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