Diante do Sofrimento
Sento-me à beira da culpa e divido-me em mil arrependimentos.
Na cabeça a força do sofrimento calcifica o fracasso,
Afoga-me em desamparos, quase decepa todo animo.
Na força do sofrimento fecho-me em teias
E nos fios das minhas sinas tortas estrangulo
Toda a dignidade e caminhos retos que existiam.
Mas é na força do sofrimento, por mais insuportável que seja,
Que fecundo outros mundos, verbalizo em silêncios,
Desatino nós que repartiram o ego em absolutos nadas.
Na intensidade do sofrimento há uma via pedagógica.
Pois reafirmo o rufar de asas que pensei estarem decepadas...
E sobrevivo num quase cadáver que parecia padecer de vez diante de tantas dores.
Diante do sofrimento, à beira do abismo, no fim do seco poço,
A intensidade da dor, fragmentária e inteira, oferece lições
Ao crânio que dobram a realidade em múltiplas possibilidades.
O sofrimento é como um vírus que ataca as carnes...
Os anticorpos, o fortalecimento só se adquirem nas contradições da dor.
Diante do sofrimento meus pedaços se juntam em um novo e vigoroso corpo.