Contar com a Própria Sorte
Eu quero encher de cachaça,
Esse vazio do peito,
Eu não vim pra esse mundo,
Fazer papel de estrangeiro.
A minha dor que não passa,
Futuro é devaneio,
Passado que me persegue,
E do presente,
Tô de saco cheio.
Realidade é a tela de um celular,
Onde cancelam humanos,
E os com mais seguidores,
Todos buscam de algum modo imitar.
As amizades estão distantes,
Ninguém pode tocar,
Ansiolíticos são balas,
São ofertados em todo lugar.
Trabalhadores escravos,
Deste Estado novo,
Ainda defendem o sinhozinho,
E o capitão cria leis,
Para conter o povo.
O desemprego te visita,
Leva suas economias,
E a fome de carona,
Devora o último ovo.
A geladeira jazia,
Família que se preocupa,
Vendo a panela vazia,
Irá chorar de novo.
Na fila para o bolsa família,
Por cesta básica segue a trilha,
Sem aluguel,
Sem moradia,
O teto estrelas,
De uma noite fria.
Mais um na rua,
Sem estática,
Entre milhões,
Que precisam de dinheiro,
De um emprego,
De um lar,
E de terapia.
A cura tá em um tonel de corote,
Quem não tem nada na mente,
Tem que contar com a própria sorte.