O trem
Fila na catraca
Eterno vai e vem
Empurra-empurra de babaca
Lá vem mais um trem
Multidão se aglomera
Quem tá do lado é inimigo
Trabalhador se desespera
De domingo a domingo
Tem água geladinha, quem é que vai levar?
Lá do fundo vem gritando mais um ambulante
Tá na promoção, gente! Vamo aproveitar
E num segundo ele passa, vish! já tá distante
Ali no canto jogado
trabalhador cansado
encostado no chão
mais um dia de cão
Outra estação vem
sufoco dentro do trem
eternidade prolonga o instante
dor no braço incessante
Quando menos se espera, criança com bilhetinho
não tenho alimento em casa, será que pode me ajudar?
alguns olhares de tristeza, ajudam com carinho
outros com desprezo, apenas a lhe julgar
E lá do outro lado, uma moça em desespero
Outro cuzão tarado, roçando na sua perna
Com medo de gritar, dizerem que é exagero
ela tá querendo lacrar! Essa gosta de baderna
Um tiozão moscando, com bolsa no chão
Um menor ligeiro, avista o vacilão
Chega na espreita, vai metendo a mão
pá! pum! Sumiu na multidão
Guarda pega ambulante
Toma a mercadoria
Eu sou trabalhador, tio! Não traficante
Foda-se vacilão, hoje não é seu dia
Grávida na luta, viajando em pé
quem tá lado vira ator, finge que tá dormindo
na falta de banco pro idoso, resta apenas a fé
achar lugar pra descansar, tá mais difícil que o bingo
Vem estação final, todos desembarcam
De domingo a domingo, um ciclo que não termina
novamente empurra-empurra, outros corpos embarcam
a perifa tá clamando o fim dessa maldita sina
Pra muitos essa rota é chamada cotidiano
pra muitos a rotina é esse eterno vai e vem
pra muitos a vida aos poucos vai ficando
em cada brecha da janela do trem