Valendo-me

Nasci num Vale.

Este vale chamava-se Baixa da Gia,

Sem rios ou geleiras, e

Com um processo geológico de origem que desconheço.

Reconheço, porém, que o nome da localidade foi dado pelo retrato:

Riachos que se tornaram esgoto não encanado.

As montanhas, eram morros de areia brancas e cascalho acrescentado pela mão humana.

Os habitantes, em sua maioria retirantes,

Vieram para essa área de restinga por aproximação ao fascínio litorâneo.

A rua, trazia nome de fruta,

Algo para representar o que tínhamos em abundância.

Chãos e tetos naquela época foram generosidade,

Um complexo de vários braços.

Canto de pássaros, cheiro das flores, sabor dos alimentos nativos...

Ôh... Saudades de Dn. Neguinha e de Sr. Chico.

De pés desnudos e em companhia das pulgas,

Tudo era a maior alegria,

Do mutirão para espalhar o barro nas ladeiras ao conserto das pontes de madeira que a chuva varria.

Artesãos, pescadores, quituteiras, ganhadeiras, pedreiros, agricultores, músicos, artistas, capoeiras...

Os ventos por aqui reluzem realezas.

Fico feliz em compor minha quebrada em versos.

É uma forma de dizer muito obrigado ao passado,

Me firmar no presente, sem deixar de acolher o novo e a vida futura,

Assim como diz a filosofia africana Sankofa.