MOSCA DA BICHEIRA
Meu Deus, ouvi um cristão falar com ódio no coração
Ele defendia sua casa, mas atacava seu irmão
Ele gritou: “Viva a família, mas que morra o filho ou a filha”
Ele bradou: “Destruam Gomorra, Sodoma e aquela ilha
Quero ver a morte”, disse, “tenho sorte, tenho a graça
O outro é um pecador”, falou, “blasfemador, uma desgraça”
Disse ainda mais: “Se morre um ateu, que diferença faz?
Que morra milhar, deram azar, não chorarei jamais”
Ele continuou: “De Deus eu sou, para o céu eu vou
Mas o outro é do diabo, foi tentado e o mal não negou
Que o outro viva o inferno”, falou, “tenha castigo eterno”
Levantou o braço e, sem embaraço, arrumou o terno
Fez ele um gesto, um sinal significativo e indigesto
Supremacia racista, um movimento fascista e desonesto
Ele flertou com os seus, enquanto usava o Nome de Deus
Na luta entre Golias e Davi dos Judeus, ele era pró filisteus
Muito mais como Judas talvez, como Hitler que fez o que fez
Ou como os preconceituosos, anônimos por sua vez
Todos fazendo trair, querendo o Amor, de vez, banir
Ele fez na igreja a comunhão, recebeu Jesus em sua mão
E, com os lábios na Hóstia Santa, traiu com sua garganta
Proferira inverdades e sem piedade ele não se quebranta
Entregou-se à idolatria por falta de amor ou de sabedoria
Ajoelhou-se ante à tirania, mas à justiça divina fez rebeldia
A Bíblia citou, mas negou os dons que Deus nos deixou
Desprezou a Ciência, o Saber e a Inteligência negligenciou
O Conselho e a Fortaleza deixou de lado com certeza
Pois seu método escuro e impuro era contrário à clareza
Defendeu à exclusão ou, por omissão, nada fez pelo pobre
Juntou-se aos nobres, poderosos e detentores dos cobres/
Praticou a religião da prosperidade, esquivou-se da caridade
Fechou os olhos para a realidade e renegou toda verdade
Em meio à pandemia um gato mia, um cachorro late
Pessoas confinadas, bem guardadas, o justo o mal combate
Mas o negacionista como um terrorista faz aglomeração
Contaminados se contagiam, contrariam-se na agitação
Ele se diz puritano, mas soldado espartano que não luta
E afirma que quer rezar e lidar com sua diária labuta
Ele grita: “Quero trabalhar, não me impedirá ninguém”
Mas já demonstra que não lhe preocupa o outro alguém
Gerar o caos é sua meta, sua fala é como uma seta
Suas palavras são ambíguas, mas a intenção é direta
Quanto mais pavor, menos amor, mais insegurança
Quanto mais intemperança, mais seu poderio avança
Alimentar-se do medo é o seu segredo, seu legado
Votos dos mortos almeja, escalar montanhas de corpos
Na fome o poder exercer, enriquecer-se nos caminhos tortos
Como um urubu eu não diria, pois não faria justiça à ave
Mas como uma mosca bem tosca que pousa suave
E bota na ferida seus ovos, gerando bichinhos novos
A carne viva devorando como vírus matando os povos
Ele é o que há de pior, entre os insensatos é o maior
Não é rei, nem mago, não é Gaspar, Baltazar nem Melchior
Pois nenhum presente oferece, nada de bom favorece
Talvez seja Herodes que mata criança que ainda cresce
Sua boca fala de Deus, mas como fariseu é mentiroso
Acho que a Bíblia manuseia, mas anseia por servir o tinhoso
Ele tem vários nomes e homens fanáticos o defendem
Na ignorância aposta e, como resposta, muitos a ele se vendem.
Aberio Christe