O Funcionário
De repente escuta-se um grito
F.O.D.E.R.
De repente tudo parou.
De repente vários pares de olhos
olham na direcção daquele grito;
um até se assustou,
e um outro apenas fechou os olhos.
De repente uma voz vem perguntar:
- Quem gritou?
E uma outra voz responde:
- Foi aquele…
Duas vozes perguntam:
- O que se passou?
E outra responde
-Foi aquele!
Como se tivesse caído uma bomba
no edifício da moral,
uma voz autoritária pergunta:
- O quê é que você disse?
E aquele que disse, disse:
F.O.D.E.R.
De repente vários olhos se abriram.
De repente vários clamores das bocas saíram.
De repente foi um choque brutal entre as pessoas de bem.
De repente era então o fim da moral e da ética profissional.
E diz aquele que disse
- F.O.D.E.R., sim! F.O.D.E.R.
E vários olhos se puseram apontar
e uma e outra gente se pós a julgar;
outros abanavam a cabeça indignados,
como se um crime acabara de acontecer.
- O senhor não poder estar bem!
Diz-lhe a voz autoritária.
(E um murmúrio de juízes de valor se escutava
por detrás daquela voz autoritária).
Responde aquele que disse:
- Eu estou bem, não estou louco,
sei bem o que disse e como disse!
E voltarei a repetir se necessário:
F.O.D.E.R.
A voz autoritária perguntou
qual a razão daquele palavrão?
Responde então aquele que disse:
- Palavrão? Não disse nenhum palavrão,
- Se o senhor se sente revoltado
vá para a rua, que isto não é uma tasca!
Reprime-lhe a voz autoritária.
Mas aquele que disse, o que disse
começa a desfiar letra a letra:
FOMOS
OPRIMIDOS
DEPOIS
ESCRAVOS
REMUNERADOS.