Cidade
Garganta coalhada de desejos
Filas de dromedários azuis
Riso nervoso de tatus
Túneis que só levam
A outros túneis que levam
A outros túneis
Cidade
Arfante elefante de cimento
Erguida sobre o barro dos cadáveres
Não há horizonte em tuas faces
O ar é de chumbo
E o vento tempestade
Cidade
Quem te ergueu não sabia
Que te estava erguendo
Cada pequeno pedaço parecia
Um pequeno ladrilho amarelo
Cidade
Cada dia em teu breu arde
O fogo de infames fogueiras
E os restos dos que te engalanam
Cidade
Da maravilha que te pintam
Só sobram os ratos mortos
Cidade
Túmulo vivo para milhões de tortos